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Plano Diretor de SP promove o resgate do espaço público, hoje privatizado | Bike é Legal

Por ESPN

Na última quinta-feira(31), o prefeito de São Paulo Fernando Haddad sancionou o Plano Diretor Estratégico da cidade, que define as diretrizes da política urbana na capital paulista para os próximos 16 anos. A cerimônia aconteceu no auditório do Parque do Ibirapuera, repleta de discursos, palmas, puxa-saquismo e outras cenas típicas dos eventos políticos.

Mas valeu, e muito. A lei está calcada em três vertentes: moradia, mobilidade urbana e sustentabilidade. Esse tripé, em harmonia, será a chave para a humanização da cidade, a inclusão social e o resgate dos espaços públicos, hoje totalmente segregados pela prioridade da fluidez dos automóveis e a ocupação desigual do solo.

Veja aqui nesse vídeo um resumo do contexto da lei:

O texto é impecável e vai direto ao ponto: O que queremos ser? Cidade Grande ou Grande Cidade? “Grande Cidade” é o que queremos ser.

A comunicação visual dessa peça também é impecável. Veja:

REPRODUÇÃO

Plano Diretor de São Paulo
Plano Diretor de São Paulo
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Comunicação visual do plano mostra foco em pedestres e ciclistas
Comunicação visual do plano mostra foco em pedestres e ciclistas
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Cidade está implantando plano de 400km de novas ciclovias
Cidade está implantando plano de 400km de novas ciclovias

O Plano obedece na íntegra a Política Nacional de Mobilidade Urbana, a lei e N0 12 587 de janeiro de 2012, lei esta totalmente desconhecida da esmagadora maioria da imprensa que critica antes de estudar os fatos.

Dessa forma, o transporte público tem total prioridade de circulação, assim como os pedestres e ciclistas, os chamados “não motorizados”.

Aqui entre parêntesis, estar classificada de “não motorizado (a)” é irritante. Primeiro porquê o “não” usado como regra é negativista, cria uma espiral descendente, para baixo, prefiro a comunicação positiva. Em segundo, porque ao ser tratada de “não alguma coisa”, sinto-me classificada como a exceção de uma regra, o que não é correto, pois eu, como a esmagadora maioria dos cidadãos de nossas cidades, me locomovo com o que é de mais natural do ser humano, as pernas, as mesmas com que todos nascemos.

Os carros tumultuam e poluem a cidade e dão conta apenas de 28% dos deslocamentos.

Se somarmos os 33% dos deslocamentos que são feitos a pé, aos 38% dos que são em transporte público teremos que, pela primeira vez na história da cidade, a política de mobilidade urbana agora coloca prioridade para os 72% dos deslocamentos que são de transporte público, a pé e de bicicleta, os “sem carro próprio” .

Já estava bem passada da hora não é?

“A Mobilidade Sustentável pode ser definida como o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos não motorizados e coletivos de transporte, de forma efetiva, que não gere segregações espaciais, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável. Ou seja: baseado nas pessoas e não nos veículos” (1) (2) Assim o Ministério das Cidades define a Mobilidade Sustentável.

Mas voltando ao que interessa, nós, os “não motorizados” mais uma vez estamos legalmente em prioridade no trânsito dessa nossa capital. Primeiro pelas leis federais e agora, pelo Plano Diretor.

O prefeito Haddad está de fato colocando em prática essa meta. Primeiro com os corredores de ônibus, que foram massacrados pela mídia e pela sociedade carro-dependente, mas aplaudido pela esmagadora maioria dos paulistanos, aqueles que sofrem todos os dias no transporte público.

Há cerca de um mês o prefeito anunciou 400 km de ciclovias segregadas, para até o final de 2015. Essa velocidade de implantação é estratégica, uma das técnicas usadas em Nova Iorque, quando a mudança foi rápida, para que os benefícios da transformação fossem sentidos e absorvidos o mais rápido possível.

Toda a mudança é dolorida e quanto mais rápida ela acontecer, melhor.

No entanto chega a ser impressionante o que a mídia está avessa a mudanças que resgatam o espaço público, e o quanto a polêmica por polêmica é hoje colocada em pauta em vez do debate construtivo.

Ao folhear os jornais e revistas e assistir os noticiários, fica evidente que essa mídia é dependente de anúncios de carros e portanto, dá margem a concluir que existe aí um “rabo preso”.

O mais indignante é que esses veículos buscam munição entre os próprios ciclistas que, ao emitir um ingênuo comentário ou mesmo crítica a um sistema ainda em implantação, dão subsídio a um monte de bobagem que vem sendo veiculada.

Nunca vi tanto “expert em mobilidade” falar tanta asneira! Não quero aqui nesse post passar os links dessas matérias estúpidas, para não dar ainda mais audiência a esses incompetentes, mas leia aqui a brilhante resposta de Willian Cruz, no Vá de Bike, a uma das bobagens veiculadas no Estadão:

Ninguém duvida da necessidade de taxis, e veja que interessante: em São Paulo, a cada viagem realizada em um taxi, duas outras são feitas em bicicleta.

Portanto, só cego não vê as bicicletas nas ruas de nossa cidade e com elas o resgate do espaço público, hoje privatizado para a circulação e estacionamento de carros particulares.

Já passou da hora de mudar. Aos que imaginam que só existe segurança dentro de um carro blindado fica o convite, saia a pé e usufrua os espaços públicos, pare de reclamar e ajude-nos a construir uma cidade mais humana.
(1) MCIdades/SeMOB/Diretoria de Mobilidade Urbana – A mobilidade urbana sustentável, texto para discussão, março de 2003.
(2) MCIdades/caderno6/Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável, pág 13)

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